Fisioterapia Pélvica na Incontinência Urinária Pós-prostatectomia Radical

O câncer de Próstata no Brasil é o segundo tipo de câncer que mais mata, perdendo somente para o de Pulmão. A cada 10 pacientes em países subdesenvolvidos, cerca de 3 a 4 homens morrem da doença. Quando detectado precocemente, tem até 95% de chances de cura. Porém, quase 50% dos homens brasileiros nunca passaram em consulta com Urologista, situação que eleva o número de casos ao ano (a cada 6 homens, 1 tem a doença). INCA, 2019.

A Próstata é uma glândula localizada abaixo da bexiga – a uretra, canal que leva a urina para fora do corpo, passa em seu interior. Ela cresce cerca de 0,4g/ano a partir dos 30 anos. No adulto jovem seu peso está em torno de 20 gramas (figura 1)

A glândula produz o líquido prostático. Essa substância é misturada com o líquido seminal, que vem das vesículas seminais. Juntos, eles formam 90%  do sêmen e são responsáveis por nutrir , proteger e facilitar a locomoção dos espermatozoides. Esses gametas são produzidos nos testículos e chegam à próstata pelo canal deferente.

O PSA (antígeno prostático específico) é um exame de sangue realizado para detectar precocemente o CA de Próstata, e também outras condições como Hiperplasia Prostática Benigna e Prostatites. Ele é o exame inicial, sendo necessários outros exames, como o toque retal e a biópsia para confirmar diagnóstico. A partir dos 45 anos, a OMS recomenda a procura de um Urologista para avaliação da próstata, e aos 40 anos caso tenha casos na família.

A Prostatectomia é a remoção cirúrgica de parte ou toda a próstata. É realizada em casos de tumores malignos e quando a próstata se torna muito grande (Hiperplasia Prostática Benigna), a ponto de restringir o fluxo de urina através da uretra (figura 2).

Os métodos pelos quais essa remoção é feita são:

• Retropúbica: incisão na parte inferior do abdome, do umbigo até o osso púbico;

• Radical Perineal: incisão na pele entre o ânus e o períneo, pouco usada por não poupar os nervos, e os linfonodos não podem ser removidos;

• Por Laparoscopia ou Robótica: menor perda de sangue e dor, menor tempo de internação e recuperação;

Pesquisas recentes comprovam o melhor prognóstico da cirurgia robótica nos primeiros 6 meses, porém, após 2 anos, os sintomas urinários são de mesma porcentagem (5%), independente da via cirúrgica.

Alterações Pós-Prostatectomia podem acontecer. Além dos riscos gerais, como infecção no local da cicatriz ou hemorragia, a cirurgia para o câncer de próstata pode ter outras sequelas importantes como:

Incontinência Urinária

• Disfunção Erétil

• Ejaculação Retrógrada (HPB; intervenção no colo vesical)

• Dor Pélvica

A Incontinência Urinária (IU) é caracterizada por qualquer perda involuntária de urina, seja em gotas, jatos e/ou contínua. Nos casos após a Prostatectomia, ela pode ocorrer devido à lesão no esfíncter uretral externo, formado pelo músculo perineal responsável pela continência urinária. De modo geral, trata-se de uma incontinência transitória e costuma desaparecer no prazo de seis meses. No entanto, pode haver perda urinária leve ou moderada às vezes até um ano ou mais após a cirurgia. Há incidência maior em pacientes com manipulação prévia da próstata (HPB), e diabéticos.

Caso haja necessidade de radioterapia, os pacientes podem desenvolver espasmos na bexiga levando à hiperatividade (figura 3).

Tipos de Incontinência Pós-Prostatectomia

  • IU aos Esforços (90 a 100%) – perda urinária ao tossir, espirrar, agachar, pegar peso, sentar e levantar, caminhar.

  • IU de Urgência e IU Mista (2º lugar) – hiperatividade detrusora (manipulação cirúrgica?) ou Hipocomplacência (alterações por denervação ou vascularização) – frequência urinária aumentada ao longo do dia, urgência e imperiosidade, noctúria (levantar à noite várias vezes para urinar).

  • IU por transbordamento - estenose de colo (anastomose cirúrgica); hipoatividade detrusora (alterações por denervação).

Fisioterapia:

A fisioterapia pode ser iniciada logo após a retirada da sonda uretral, respeitando os cuidados pós-operatórios. Mediante uma minuciosa avaliação, traçaremos a conduta de tratamento individual a qual abrangerá:

•       Terapia Comportamental:

Ø   Retreinamento vesical (supressão da urgência incrementando a capacidade vesical)

Ø  Pré-contração

Ø  Constipação

Ø  Perda de peso

Ø  Ingesta líquida / irritativos

Ø  Medicações

Ø  Posicionamento miccional

Ø  Orientações do uso de protetores adequados

Ø  Tabagismo

·       Diário Miccional (Micção Programada)

·       Terapia Manual

·       Eletroterapia - Promove a contração e o relaxamento da musculatura do assoalho pélvico com a ajuda do paciente, dependendo do grau de força.

·       Biofeedback - Contribui para o controle do Terapeuta e paciente, por meio de estímulos visuais ou aditivos, melhorando a consciência perineal e consequente força muscular.

·       Cinesioterapia Pélvica - Padrão ouro de recomendação como tratamento de primeira escolha para reabilitação de Assoalho Pélvico; pré-contração; exercícios ativos em diferentes posturas e em situações que possam provocar a perda urinária.

·       Programa Domiciliar

Os critérios para o paciente receber alta compreendem na redução de perdas urinárias, uso de 0 a 01 protetores/dia, melhora da qualidade de vida de 80%, programa domiciliar incorporado, ausência de urgência ou urge-incontinência e jato urinário forte e grosso.

       É importante acompanhar a evolução junto ao Fisioterapeuta e ao Urologista responsável.

Texto escrito por: Cinthia Medeiros Simão

CREFITO-2 71433

Fisioterapeuta Especialista em Saúde da Mulher

Fisioterapeuta no setor de Fisioterapia Pélvica da Associação Fluminense de Reabilitação (AFR), Niterói, RJ.

Instagram: Cinthia Simão

Figura 1

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Figura 2

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Figura 3

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