Você tenta ter sua primeira vez como todo mundo. Um misto de ansiedade, curiosidade e nervosismo invadem seu corpo e sua mente mas você pensa “hum, normal! Afinal todos já passaram por isso e esses sentimentos desaparecerão!”. Aí você faz a tentativa e NADA! Eu digo, nada mesmo! Então, você tenta umas cinco vezes e o pênis simplesmente não entra, e quando tenta entrar, dói como se você estivesse com uma parede na entrada na sua vagina e o pênis fosse uma marreta tentando quebrá-la! Bom, lá vamos nós mais uma vez respirar, deixar o tempo nos mostrar quando estivermos realmente prontos para tentar novamente. De repente, doeu porque não estava preparada. De repente doeu e deva aguentar a sensação de algo rasgando porque a primeira vez todo mundo diz que é dolorida mesmo. Talvez deva seguir em frente com dor que depois de algumas tentativas a “vagina alarga” e pára de doer.
E ali se vão dias, meses e até anos sem conseguir penetração, sem ter “sexo de verdade”. A vontade de transar praticamente não existe mais, até porque toda a vez que tentam o sentimento de frustração invade tanto o ser que é melhor nem iniciar para que essas emoções tristes de impotência e fracasso não retornem. Ir para a consulta ginecológica e não conseguir completar o exame é humilhante. Tentar colocar um absorvente interno porque está menstruada exatamente na semana da viagem de família para as águas termais e quase desmaiar no banheiro de tanta dor e nervosismo faz com que paremos para pensar se realmente somos mulheres. Sentar à roda de amigas e fingir que está tudo bem quando na verdade você namora e não faz sexo porque não consegue mas não conta para ninguém para preservar a imagem do seu namorado é uma droga de sensação. Às vezes parece que falta uma parte de feminilidade, que não existe no corpo. Às vezes era para ser assim mesmo, tenho problema e nunca vou conseguir fazer o estimado “sexo que todo mundo acha fantástico”. Às vezes era pra eu achar que tenho um problema mesmo e nunca vou poder ter filhos porque não consigo fazer sexo, e se por ventura conseguir com muita dor, como vou manter uma gravidez sem fazer exames?
Eu descrevo essas sensações de impotência, de baixa auto-estima e de fracasso pois foi o que senti por 4 anos, até completar a minha especialização em fisioterapia pélvica e entender que o problema não era maligno e muito menos eterno. E porque ninguém me dizia isso? Porque os profissionais me mandavam relaxar e passar lubrificante de farmácia? Porque ignoravam a minha dor e diziam que era normal? Foi aí que resolvi me tratar e me apaixonei pela sexologia. Aí decidi mudar a vida de mulheres e homens que possuem problemas para ter relação sexual. Parece um problema fútil, mas que nos afeta tanto com a sensação de frustração e incapacidade, que a baixa auto-estima toma conta de toda a nossa vida profissional e social.
Esta é a primeira vez que eu, como profissional, exponho minha história ao público. Talvez minhas pacientes fiquem estarrecidas em saber que as tratei, que já passei por isso e nunca havia lhes contado. Talvez sintam também orgulho em saber que me curei, curei elas e por ter passado por este problema consiga ajudar muitas mulheres.
Hoje, nós fisioterapeutas, erguemos os braços aos céus dizendo que conseguimos curar o VAGINISMO fazendo as mulheres sentirem prazer, fazerem exames ginecológicos sem nada de dor, colocarem o absorvente que quiserem e até mesmo DIU sem anestesia. Nós fazemos as mulheres se sentirem mulheres! Eu falo isso com propriedade! Hoje faço o que quero do jeito que quero e sem um pingo de dor. Sexo, exames, DIU, absorventes, testes, pompoarismo, ginástica íntima e o que mais você puder imaginar. Somos mulheres e temos o direito de fazermos o que quisermos, inclusive sentir prazer sem culpa!
Jordana F. Dossin é fisioterapeuta graduada pela UCS (Universidade de Caxias do Sul) e especializada em Fisioterapia Pélvica. Possui formação em Atuação fisioterapêutica nas disfunções sexuais masculinas, sexologia clínica, Pilates Clássico, Atuação fisioterapêutica no pós-operatório de mamoplastia e terapia manual pélvica. Atualmente possui clínica onde atua juntamente com sua equipe.
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